quinta-feira, 24 de abril de 2014

Transcriação

Sexto e ultimo texto produzido pro colóquio interno do EFF, unidade temática: Transcriação
Estudante de graduação em Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso. Participante do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia e Formação (EFF) - UFMT.


Aproximadamente a quinze ou vinte dias atrás foi-me requerida a tarefa de produzir uma página sobre transcriação como atividade do colóquio interno do EFF. Tarefa ansiogênica pela falta de contato com o conceito de transcriação.

Não pude escapar a compulsão por tentar definir, compreender, apreender, o conceito de transcriação. Impulsionado pela necessidade de entender esse conceito pus-me a ler o referencial teórico indicado. No entanto essa iniciativa se tornou inócua no objetivo de clarear-me essa dúvida dada a densidade dos textos referendados na bibliografia do tema e ao meu parco contato com os mesmos.



Após uma pesquisa sobre o tema me deparei com uma tese de mestrado denominada “Esboço de Transcriação para a Metáfora do Infinito” defendida por Cesar Luiz Moreira da Fonseca Marques apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Paraná, sob orientação do Dr Carlos Roberto Vianna e co-orientação do Dr Alexandre Luis Trovon de Carvalho. Na referida tese Marques apresenta algumas elucidações das diferenças entre tradução e transcriação. Abaixo, passo a dar a voz ao próprio Marques citando partes de sua tese:



“Diferentemente da tradução pura e simples, a transcriação pretende mais do que apenas propiciar a passagem de um código para o outro. Visa à compreensão dos significados e idéias, das nuances, contidas no signo e relativos ao contexto cultural de ambas as línguas. Neste processo, ocorre uma transformação do que foi dito, uma manipulação por parte do tradutor/transcriador de modo que o que está sendo traduzido assume uma nova cara, que, de modo nenhum oblitera a figura do autor, mas a enaltece, pois torna o seu texto mais vivo, mais pleno de sentido."

A tarefa da tradução está limitada, portanto, pela impossibilidade da tradução pura ou perfeita onde todos os elementos do texto encontrem correlatos na língua para a qual está sendo traduzida. O que torna o processo de tradução em transformação ou transcriação que se torna então uma resposta frente ao desafio do interdito. 

Para minha surpresa ao tentar compreender o conceito de transcriação e traduzi-lo de uma forma que eu pudesse compreender me deparei com a própria transcriação (!) (?).

Referencia

MARQUES, Cesar Luiz Moreira da Fonseca. Esboço de transcrição para a metáfora básica do infinito. Curitiba, 2007. 106 f. http://www.ppge.ufpr.br/teses/M07_marques.pdf acessado em 14 de abril de 2014 às 14h

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tradução

Quinto texto produzido pro colóquio interno do EFF, unidade temática: Tradução

Graduanda em Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atualmente bolsista de Iniciação científica no projeto Escrileituras - Um modo de ler-escrever em meio à vida.

Tradução é criação. O conceito de tradução em Escrileituras surge a partir dos irmãos Campos que colocam o trabalho do tradutor como um trabalho criador, de experimentação. Rompe-se com a ideia de um tradutor transliterador e assume a feição autoral, que manifesta vivências. Tradução não se pensa sem tradição, ao mesmo tempo em que se desloca desse texto original o temos, talvez, como um objetivo distante, ou uma referencia distante. Não se pensa tradução sem pensar temporalidade, a cada aula um professor faz uma nova tradução de um mesmo conteúdo, a partir de elementos da própria vida. A tradução percorre as oficinas de transcriação como um dispositivo disparador das mesmas. O tradutor opera como um agente de fluxos de intenção.

Referencias

DALAROSA, Patrícia Cardinale. Observatório da Educação/CAPES/INEP. In: HEUSER, Ester Maria Dreger (org.). Caderno de Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011, p. 15-31.

sábado, 19 de abril de 2014

Método

Quarto texto produzido pro colóquio interno do EFF, unidade temática: Método

Estudante de graduação em Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso. Participante do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia e Formação (EFF) - UFMT; do Núcleo UFMT do Programa Observatório da Educação - Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida e do Programa de Educação Tutorial - PET Conexões de Saberes, grupo "Inclusão, Diversidade e Protagonismo na UFMT".

Um pré(texto)sobre o Método

O Projeto Escrileituras: Um modo de ler e escrever em meio à vida, é um jogo de leitura e escrita, que toma a aprendizagem como um processo de pensamento, dinâmico e inacabável, que ocorre dentro do seu tempo, dentro do tempo da produção (Dalarosa, 2011, p. 20). As oficinas desse plano, despidas do roteiro marginalizador, são proponentes do distanciamento ao quotidiano, ao clichê, em rota ao inédito. 

O método e a metodologia nesse “oficinar” são distintos, em que o primeiro é bem mais que modo/modelo pronto de prática a ser seguido e o segundo bem mais que um passo a passo norteador. 

A metodologia é adotada pelo projeto Escrileituras, segundo Dalarosa (2011) como “um modo de intervenção investigativa nas formas de aprender” (p. 21), uma forma de trabalho que ocasiona ao participante da oficina a oportunidade de ser agente-pesquisador do inusitado, em um devir, uma pegada teórica e prática do “oficinar”. Essa desmembra e problematiza, assim, as noções empregadas de sujeito, de realidade e de verdade das proposições, de maneira tal, que estimula o estranhamento e dá contexto à ocorrência de novas vivências.

O método, por sua vez, é o que dá movimento a essa metodologia empregada. É o que torna esse estranhamento, essa aprendizagem, esse fazer e refazer vaporizados o bastante para descobrirem, adentrarem, e impregnarem cada espaço, cada viés desse corpo ator-pesquisador, dentro de uma modalidade de trabalho. Para Deleuze (1997), o método é “[...] um caso de devir, sempre inacabado [...]” (p. 11), a metodologia de mesma forma, é sempre um vir a ser, novos a cada uso partindo da leitura que se constrói e se desmembra a todo instante. 

A unidade temática método (cartográfico, Crítica Genética, Otobiográfico, transcriação, tradução, etc.), é o translado da metodologia (reflexão, deslocamento dos não lugares, material físico utilizado, etc.) aplicada na modalidade de atividade ofertada, no caso a oficina. Observa-se então, que essa não é uma unidade isolada, o que não implica que as demais sejam, mas que é atuante no que tange a motricidade da dinâmica singular pluralizada de cada unidade, de sua realização.

Modelo explicativo para a tríade: Modalidade, método e metodologia:



Referencias

DALAROSA, Patrícia Cardinale. Observatório da Educação/CAPES/INEP. In: HEUSER, Ester Maria Dreger (org.). Caderno de Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011, p. 15-31.

DELEZE. Critica e Clinica. Trad. Peter Pál Pelbart. Rio de aneiro Editora 34, 2004.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Escrileituras

Terceiro texto produzido pro colóquio interno do EFF, unidade temática: Escrileituras

Estudante de graduação em Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso. Participante do Grupo de Pesquisa Estudos de Filosofia e Formação (EFF) - UFMT. Participante do Núcleo UFMT do Programa Observatório da Educação - Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida.

Um nome ou um conceito? A partir do início do Colóquio houve uma espécie de estalo: Escrileituras é também um conceito, uma unidade temática que permeia as Oficinas. Escrileituras não é só o nome de um Projeto de Pesquisa. O Projeto em si, como afirma Dalarosa (2011) “encontra potência no ato de criação”.

            Por encontrar potências em tal ato de criação, não podia ser diferente que o conceito escrileitura, segundo Corazza (2007), é um texto que reivindica uma postura multivalente de coautoria entre leitor e escritor, para tornar-se, dessa maneira um exercício de pensamento.

            As atividades realizadas pelo grupo e em grupo permitem compreender escrileitura não só como um nome de um Projeto voltado para o campo da Educação. Permitem compreender que é em si um movimento de escrita-pela-leitura e da leitura-pela-escrita. O pensamento é provocado a criar textos ímpares, porém que não se fecham e são esquecidos, que tornam-se duros, impermeáveis. São textos abertos em que o autor/escritor/leitor pode interferir, traduzir para outras línguas.

            Tomando escrileitura como um modo de ler-escrever há dois autores por nós conhecidos com os quais acho que o diálogo pode ser estabelecido. O primeiro é Derrida. Tal autor afirma que  “só artificialmente podemos separar um texto da vida de seu autor” (DERRIDA apud MONTEIRO, 2013, p.60).  Já o segundo é Nietzsche, e a sua afirmação, presente no seu Zaratustra, é a de que “De tudo escrito, amo apenas o que se escreve com o próprio sangue.” (NIETZSCHE, Assim Falou Zaratustra, Do ler e escrever).

            Com esses autores é possível trazer para a escrita uma das coisas que me chamam a atenção nesse movimento de ler-escrever: uma escrileitura que além de reivindicar o autor, não dissocia sua obra de sua vida, aspecto esse que temos que cuidar para não cair em uma leitura com um quê de analítico, que acabam chegando a questões mais psicológicas. E também, é uma escrita-pela-leitura de entrega, que deve conter o seu próprio sangue, a sua luta nesse exercício de escrita e leitura. Escrileitura é um exercício de pensamento em meio à vida, com a vida.

Referências

CORAZZA, Sandra. Os cantos de Fouror: escrileitura em filosofia-educação. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS e Sulina, 2007.
HEUSER, Ester Maria Dreher (org). Caderno de Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011.

MONTEIRO, Silas Borges. Quando a pedagogia forma professores: uma investigação otobiográfica. Cuiabá: EdUFMT, 2013.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Biografema

Segundo texto produzido pro colóquio interno do EFF, unidade temática: Biografema

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Participante do grupo Estudos de Filosofia e Formação (EFF), mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.

“Todo escritor dirá então: louco não posso, são não me digno, neurótico sou”. (Barthes, em “O prazer do texto”).

A partir da proposta do professor Silas e após um final de semana inteiro com Barthes, arrisco-me de uma forma simplista (poderia aqui, usar a desculpa da limitação de página, mas confesso minha inconsistência teórica) a fazer não uma definição de Biografema, mas sim um exercício conceitual.

O conceito de Biografema proposto por Roland Barthes pode ser apresentado como a biografia que flerta com a ficção, que não se restringe a uma vida histórica-cronológica, mas que sede espaço para a potência de uma nova vida através dos traços biografemáticos insignificantes e que se tornam disparadores de novos sentidos, novos textos, novas vidas. Sentidos que são tomados pelo “leitor” a partir da multiplicidade de signos que transpassam o texto (COSTA, 2010, p. 28).

Para Barthes todo texto é um “gesto coletivo”, sendo escrito-lido por várias mãos. Neste conceito visualiza-se claramente a proposta das Oficinas de Transcriação Biografemáticas, enquanto espaço facilitador da produção não somente à partir do texto lido, mas COM o texto lido (DALAROSA, 2011). A escritura biografemática não se trata de escrever sobre um autor, e sim da possibilidade de uma nova escritura e de um autor/texto reinventado.

Parafraseando Barthes, enquanto escrileitores: loucos não podemos, neuróticos somos.

Referências

BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1987.

COSTA, Luciano Bedin da. Biografema como estratégia biográfica: escrevendo uma vida com Nietzsche, Deleuze, Barthes e Henry Miller. Porto Alegre: UFRGS, 2010. 180 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

DALAROSA, Patrícia Cardinale. Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida. In: HEUSER, Ester Maria Dreher (Org.). Caderno de notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011. p. 15-29

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Aula

Em decorrência do Colóquio Interno que está ocorrendo no EFF, que tem por objetivos:
  • Retomar, em seus pontos-chave, os conceitos propostos pelo Projeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida; 
  • Revisar e ampliar as unidades temáticas trabalhadas nas oficinas;
  • Preparar, organizar e escrever individualmente, ou em duplas, um artigo acadêmico científico nos moldes da Revista de Educação Pública.
Por dentro e ao redor das Filosofias da Diferença, esse colóquio problematiza a análise e discussão das fontes, métodos e modos de fazer do Projeto Escrileituras.

Assim, foi proposto a alguns dos participantes do colóquio, o exercício de apreensão e tentativa definição das unidades temáticas trabalhadas e em seguida a produção de um texto para apresentação ao Grupo.
As unidades trabalhadas foram: 1. AULA; 2. BIOGRAFEMA; 3. ESCRILEITURAS; 4. MÉTODO; 5. TRADUÇÃO; 6. TRANSCRIAÇÃO.

Hoje falaremos sobre a primeira unidade temática, Aula.
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso, Integrante do EFF/IE/UFMT - Grupo de Estudos em Didática, Filosofia e formação do Educador - da Linha de Pesquisa Cultura Memória e Teorias da Educação também da Universidade Federal de Mato Grosso. Participa do Projeto Escrileituras do Observatório de Educação/INEP, como pesquisadora.

       Falando com Claire Parnet, Deleuze longamente, discorreu sobre o oficio do professor.
Ofereceu, nesta (con)versa valiosas pistas a respeito de sua concepção de ensino. Uma aula – diz Deleuze – com seu tempo dilatado, com a continuidade semana a semana, e contrariamente a uma conferencia, permite que se abanque, uma matéria em movimento... 
    “Curiosa ideia sobre o ensino: numa aula não se trata de transmitir uma informação, ou técnica de análise, mas de trabalhar uma matéria em movimento - a matéria pensamento” (PELBART, 2005, p. 9). 
   Movimento. Uma aula, no sentido deleuziano pede - como a dança envolve o corpo - um bailado. Camuflado no sentido, encontro que o termo "aula" denomina a lição que cada dia o professor dá a seus alunos (CASTELLO E MÁRSICO, 2007, p.103). 
     Dá? 
     Como dar uma aula? Esta questão assombra Sandra Mara Corazza. 
    Seguindo a melodia ouvida por Gilles, ela propõe o estranhamento deste lugar onde o professor segue falando a aula, com a sensação de que a “adentra” ao pisar na sala. Para ela, o verdadeiro problema, não é entrar e sim sair dela. “o professor carrega, encontra-se carregado, há cargas: ao seu redor, nos alunos, no plano de ensino, nos livros, na escola (2012, p.23)”. Apesar de não ser possível uma Receita, Corazza nos presenteia com a didática da Criação, que conta, assim como a confecção de uma partitura – com(passos) de aula. 
     Uma aula se afina, com: 
Dados: não estão prontos. São anteriores. Os que preenchem, são clichês, logo, dados-clichês. 
Trabalho: Escovar os dados-clichês. Preparatório, “invisível e silencioso e, entretanto muito intenso”. 
Preparatório: Esvaziar, desobstruir, desentulhar, faxinar, limpar a aula, para subverter as relações dos modelos com as cópias. 
Luta: fuga da aula-dada. Não há regras ou soluções universais. Só a peleia. 
Procedimentos: Só a mutilação não garante a deformação da cópia. Criação, saturação, esgotamentos, paródias. Caminhos procedimentais para explodir como força centrípeta no interior da aula clichê. 
Ato: ao criar regras próprias de ação, desorganizar e deformar dados de aplicação de forças, valoração dos valores, decapitar e sair voando da aula-clichê surge a sua aula. 
    Quando a aula estreia, o desaprender, a solidão acompanhada, os desalinhamentos, a recolocação através da criação, colocam auleiro e a matéria em movimento. 

Referências
Aula. Quem inventou que se trata de dom?(CORAZZA e AQUINO, 2011, p. 25). 


CASTELLO, Luis, MÁRSICO, Cláudia. Oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e  aprender. Tradução de Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica, 2007 
CORAZZA, Sandra Mara. Didáticário de criação: aula cheia. Porto Alegre: UFRGS, 2012 (Escrileituras cadernos de notas 3). 
CORAZZA, Sandra Mara, AQUINO, Júlio Groppa (Orgs.). Dicionário das ideias feitas em educação. Ilustrações Mayra Martins Redin. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. 
PELBART, Peter Pál. Deleuze e a Educação. In: ABRAMOVICZ, Anete e SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs.). Afirmando diferenças: Montando o quebra cabeça da diversidade. Campinas, S P: Papirus, 2005.