quarta-feira, 16 de abril de 2014

Aula

Em decorrência do Colóquio Interno que está ocorrendo no EFF, que tem por objetivos:
  • Retomar, em seus pontos-chave, os conceitos propostos pelo Projeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à vida; 
  • Revisar e ampliar as unidades temáticas trabalhadas nas oficinas;
  • Preparar, organizar e escrever individualmente, ou em duplas, um artigo acadêmico científico nos moldes da Revista de Educação Pública.
Por dentro e ao redor das Filosofias da Diferença, esse colóquio problematiza a análise e discussão das fontes, métodos e modos de fazer do Projeto Escrileituras.

Assim, foi proposto a alguns dos participantes do colóquio, o exercício de apreensão e tentativa definição das unidades temáticas trabalhadas e em seguida a produção de um texto para apresentação ao Grupo.
As unidades trabalhadas foram: 1. AULA; 2. BIOGRAFEMA; 3. ESCRILEITURAS; 4. MÉTODO; 5. TRADUÇÃO; 6. TRANSCRIAÇÃO.

Hoje falaremos sobre a primeira unidade temática, Aula.
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso, Integrante do EFF/IE/UFMT - Grupo de Estudos em Didática, Filosofia e formação do Educador - da Linha de Pesquisa Cultura Memória e Teorias da Educação também da Universidade Federal de Mato Grosso. Participa do Projeto Escrileituras do Observatório de Educação/INEP, como pesquisadora.

       Falando com Claire Parnet, Deleuze longamente, discorreu sobre o oficio do professor.
Ofereceu, nesta (con)versa valiosas pistas a respeito de sua concepção de ensino. Uma aula – diz Deleuze – com seu tempo dilatado, com a continuidade semana a semana, e contrariamente a uma conferencia, permite que se abanque, uma matéria em movimento... 
    “Curiosa ideia sobre o ensino: numa aula não se trata de transmitir uma informação, ou técnica de análise, mas de trabalhar uma matéria em movimento - a matéria pensamento” (PELBART, 2005, p. 9). 
   Movimento. Uma aula, no sentido deleuziano pede - como a dança envolve o corpo - um bailado. Camuflado no sentido, encontro que o termo "aula" denomina a lição que cada dia o professor dá a seus alunos (CASTELLO E MÁRSICO, 2007, p.103). 
     Dá? 
     Como dar uma aula? Esta questão assombra Sandra Mara Corazza. 
    Seguindo a melodia ouvida por Gilles, ela propõe o estranhamento deste lugar onde o professor segue falando a aula, com a sensação de que a “adentra” ao pisar na sala. Para ela, o verdadeiro problema, não é entrar e sim sair dela. “o professor carrega, encontra-se carregado, há cargas: ao seu redor, nos alunos, no plano de ensino, nos livros, na escola (2012, p.23)”. Apesar de não ser possível uma Receita, Corazza nos presenteia com a didática da Criação, que conta, assim como a confecção de uma partitura – com(passos) de aula. 
     Uma aula se afina, com: 
Dados: não estão prontos. São anteriores. Os que preenchem, são clichês, logo, dados-clichês. 
Trabalho: Escovar os dados-clichês. Preparatório, “invisível e silencioso e, entretanto muito intenso”. 
Preparatório: Esvaziar, desobstruir, desentulhar, faxinar, limpar a aula, para subverter as relações dos modelos com as cópias. 
Luta: fuga da aula-dada. Não há regras ou soluções universais. Só a peleia. 
Procedimentos: Só a mutilação não garante a deformação da cópia. Criação, saturação, esgotamentos, paródias. Caminhos procedimentais para explodir como força centrípeta no interior da aula clichê. 
Ato: ao criar regras próprias de ação, desorganizar e deformar dados de aplicação de forças, valoração dos valores, decapitar e sair voando da aula-clichê surge a sua aula. 
    Quando a aula estreia, o desaprender, a solidão acompanhada, os desalinhamentos, a recolocação através da criação, colocam auleiro e a matéria em movimento. 

Referências
Aula. Quem inventou que se trata de dom?(CORAZZA e AQUINO, 2011, p. 25). 


CASTELLO, Luis, MÁRSICO, Cláudia. Oculto nas palavras: dicionário etimológico para ensinar e  aprender. Tradução de Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica, 2007 
CORAZZA, Sandra Mara. Didáticário de criação: aula cheia. Porto Alegre: UFRGS, 2012 (Escrileituras cadernos de notas 3). 
CORAZZA, Sandra Mara, AQUINO, Júlio Groppa (Orgs.). Dicionário das ideias feitas em educação. Ilustrações Mayra Martins Redin. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. 
PELBART, Peter Pál. Deleuze e a Educação. In: ABRAMOVICZ, Anete e SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs.). Afirmando diferenças: Montando o quebra cabeça da diversidade. Campinas, S P: Papirus, 2005.

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